segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Carta desesperada



Como é difícil, Beatriz, escrever uma carta...
Antes escrever os Lusíadas!
Com uma carta pode acontecer
Que qualquer mentira venha a ser verdade...
Olha! O melhor é te descrever, simplesmente,
A paisagem,
Descrever sem nenhuma imagem, nenhuma...
Cada coisa é ela própria a sua maravilhosa imagem!
Agora mesmo parou de chover.
Não passa ninguém. Apenas
Um gato
Atravessa a rua
Como nos tempos imemoriais
Do cinema silencioso...
Sabes, Beatriz? Eu vou morrer!
  

QUINTANA, Mário. Antologia poética. Porto Alegre: L&PM, 2001.

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