Metonímia
Meu pai colocou meu nome num barquinho que comprou.
É miúdo.
Uma insignificância no meio do oceano de vaga vaga.
É reles.
De uma cruel e desleixada vileza.
De uma pequenez quase lírica.
É reles.
Mal cabem nele dois homens e o isopor para a pescaria.
Mal cabem dois homens.
Talvez somente ele – solitário – e o isopor.
Mas, como no milagre,
o barco que leva o meu nome caminha sobre as águas.
O belíssimo poema acima é uma amostra do livro
Água Negra, da poetisa baiana Lívia Natália, ganhadora do Prêmio Banco Capital Cultura e Arte – Poesia deste ano. Bom demais iniciar este domingo ensolarado me banhado nas líricas águas de Lívia, nas quais – como tão bem escreveu Ângela Vilma, na orelha do livro – “o mundo ressoa, com seus símbolos vivos e mortos”. Parabéns a Lívia, essa linda filha de Oxum, por seus versos vigorosos e líquidos, que nos molham, nos cortam e nos fazem levantar a cabeça para o vasto mundo renovados, e em silêncio.