minha avó materna não deixou fotografia
morreu de parto
numa manhã de inverno
aos trinta e dois anos de idade
aos trinta e dois anos de idade
em sua própria cama
deixando seis órfãos, um marido devastado
e uma casa para sempre vazia
dizem que era bela
com seus cabelos negros
e o olhar azul profundo
a espiar o tempo
minha avó materna era judia
como a sua mãe, a mãe de sua mãe
a mãe da mãe de sua mãe
e a sua filha
como a filha de sua filha
e a filha da filha de sua filha
dizem que era forte
com seu corpo esguio
atravessando os vales
a desafiar a sina
minha avó materna não nos legou seu sobrenome hebreu
pois o perdera antes mesmo de nascer
também jamais lhe escutaram pronunciar a língua
nenhuma carta, nenhuma joia, nenhum caderno de receitas
nenhuma velha Torá no fundo falso de um baú
nenhuma fotografia
somente sua ausência
seu sangue antigo em nossas veias
e uma dor quieta
e infinita
nos olhos ternos de minha mãe
Tocante.
ResponderExcluirTou emocionada.
Beijoss
Obrigada, Bípede, pela visita, pela leitura. Bjs
ExcluirTambém fiquei emocionada. Ler um poema desses dentro do mais imenso frio, é de um aprofundamento grande. Parabéns, amiga!
ResponderExcluirMinha amiga, obrigada pela leitura, por tudo tudo tudo. Bjs.
ExcluirMônica sempre me deixa sem palavras. Desperta em mim sentimentos que calam fundo na minh'alma, remexem o passado e trazem à tona a lembrança de um amor eterno e incondicional. O amor pelos nossos. Lindo como você Moniquinha. Bjs Abigail Bastos
ResponderExcluirObrigada, Bibi. Bjs
ExcluirMuito lindo.
ResponderExcluirObrigada, Martha, pela visita. Bjs.
ExcluirLindo. Era como te ouvir dizendo.
ResponderExcluirAna, saudades de você. Venha logo me visitar. Bjs.
ExcluirEscrever sobre as mulheres, que de forma encadeada, são responsáveis por nossa existência, é sempre desafiador, porque de seu amor somos fruto e é muito difícil ao fruto versar sobre a árvore. Belíssimas palavras! Parabéns Mônica!
ResponderExcluirObrigada, Sandra, pela sua visita, pelas leituras generosas. Volte sempre. Abraços.
ExcluirLindo demais. Amo a tua poesia. Bjs
ResponderExcluirvidas silenciosas e abissalmente marcantes.
ResponderExcluirAmei a musicalidade dessa estrofe:
ResponderExcluir"minha avó materna era judia
como a sua mãe, a mãe de sua mãe
a mãe da mãe de sua mãe
e a sua filha
como a filha de sua filha
e a filha da filha de sua filha"
Além disso a melancolia me pegou por aqui:
"nenhuma fotografia
somente sua ausência
seu sangue antigo em nossas veias
e uma dor quieta
e infinita
nos olhos ternos de minha mãe"
De forma inteira percebi o poema em um suspiro profundo.Amei! abraço apertado.:D
Obrigada, Anna, Lidi e Naiana, pela visita. Bjs
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