sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sobre a vida



Embora tenha passado mais de um mês na UTI após um AVC, meu pai retornou pra casa e começou a se recuperar: voltou a andar e a falar quase que normalmente. Morreu num domingo, no meio de uma frase, enquanto contava uma de suas histórias pros amigos. Dizem que deu um suspiro mais longo e apagou. Simplesmente. 

Eu não estava lá. Naquele final de semana não pude viajar e nem deu tempo dele ler a minha última carta (enviava-lhe uma semanalmente).

Ontem, após cinco anos, minha filha me contou que, no nosso último encontro, enquanto eu me dirigia ao carro às lágrimas, ele a abraçou e disse-lhe que aquela seria a última vez que nos veria, pra ela cuida de mim.

Foi assim, e eu não tenho nenhum poema, somente esse silêncio tão fundo e a certeza de que a vida é muito bela.

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