domingo, 25 de março de 2012

Pelo Skype


Minha mãe penteou os cabelos, trocou de blusa e enfeitou com flores a mesa, pra chegar formosa em minha casa.

Minha mãe é pura delicadeza. Foi dela que herdei esse olhar de vales chovidos.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Minha epígrafe

Lua na água
recolhida na concha da mão:
é real, irreal?
Isso fui eu no mundo.

Últimos versos do poeta japonês Ki no Tsurayuki (882-946)

domingo, 11 de março de 2012

Possibilidades


 

Por Wislawa Szymborska

Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos sobre o Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando das pessoas
do que amando a humanidade.
Prefiro ter agulha e linha na mão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não achar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrevê-los.
Prefiro, no amor, os aniversários não marcados
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro os moralistas
que nada me prometem.
Prefiro a bondade astuta à confiante demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos conquistadores.
Prefiro guardar certa reserva.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães sem a cauda cortada.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas outras também não mencionadas.
Prefiro os zeros soltos
do que postos em fila para formar cifras.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro ponderar a própria possibilidade
do ser ter a sua razão.



Com esse poema, da poetisa polonesa Wislawa Szymborska, quebro o silêncio que há muito reinava nesta casa. Descobri Szymborska há alguns meses, pelas mãos do meu amado Carlos, e, desde então, a sua poesia peculiar, bem humorada e muitas vezes irônica tem ecoado em minha vida.

Aos meus amigos e aos poucos leitores deste blogue conto ainda que, possivelmente, tempos mais produtivos virão.