sábado, 11 de abril de 2015

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Ontem. Aniversário. Cama. Gripe. Presentes. Chuva. Alagamento. Rua. Garagem. Água. Suja. Fosso. Elevador. Tanques. Andares. Sete. Torneiras. Vazias. Mensagens. Amor. Tosse. Tosse. Tosse. Lâmina. Azul. Vida. Amém.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Virgínia Woolf estava certa:
a mulher precisa de um teto todo seu para escrever.
Não apenas ficção, como ela anotou,
mas também poesia
e até os relatórios de pesquisa.

E não precisa ser grande
ou elegante
nem mesmo precisa ser separado
ou distante
da casa onde porventura viva com o amado.

Precisa apenas ser seu.

Um lugar onde lapidar seu silêncio
sua fúria
seu caos de todo dia
seu cansaço
e aquela ânsia delicada de morrer.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Primeiro dia de férias

Um corte profundo no dedo médio da mão direita ao lavar a lâmina do multiprocessador recém-adquirido.
Muitas gotas de sangue no piso branco da cozinha.
Gaze, esparadrapo e a relembrança do ardor do merthiolate.
Um tanto de cansaço de tudo.
E não, isto não é um poema.

sábado, 21 de junho de 2014

E viva Diego Costa!




Não, eu não torci pela Espanha, mas torço muito por Diego Costa: sergipano de Lagarto, que saiu da pobreza jogando futebol em terras estrangeiras como tantos outros jovens brasileiros; nordestino, que entende que palavra dada é compromisso a ser cumprido; brasileiro, que, também como muitos outros jovens brasileiros, teve a chance de jogar uma copa, mas defendendo outra seleção que não a canarinho.

Em tempos de vaias, minha vaia àqueles que o vaiaram, e meus aplausos a ele, Diego Costa, o qual, silenciosamente, sem os holofotes da globo, contribui para atenuar a pobreza de muitos meninos nordestinos.

Imagem: Diego Costa, durante as férias, com a garotada de uma escolinha de futebol em Lagarto-SE (Foto: Achei Esportes).

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sobre a vida



Embora tenha passado mais de um mês na UTI após um AVC, meu pai retornou pra casa e começou a se recuperar: voltou a andar e a falar quase que normalmente. Morreu num domingo, no meio de uma frase, enquanto contava uma de suas histórias pros amigos. Dizem que deu um suspiro mais longo e apagou. Simplesmente. 

Eu não estava lá. Naquele final de semana não pude viajar e nem deu tempo dele ler a minha última carta (enviava-lhe uma semanalmente).

Ontem, após cinco anos, minha filha me contou que, no nosso último encontro, enquanto eu me dirigia ao carro às lágrimas, ele a abraçou e disse-lhe que aquela seria a última vez que nos veria, pra ela cuida de mim.

Foi assim, e eu não tenho nenhum poema, somente esse silêncio tão fundo e a certeza de que a vida é muito bela.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O retrato




Nós morávamos no interior do interior de Sergipe, em um lugarejo tão remoto do agreste sergipano que, em meados dos anos de 1980, ainda não era alcançado sequer pela luz elétrica. Por isso quase não temos fotografias da infância. Mas houve um dia em que nossa mãe nos arrumou (eu e meu irmão mais velho) e nos levou para cidade (para rua, como ela ainda hoje fala) para tirarmos retratos. Eu tinha menos de um ano e esse olhar já muito alumbrado diante do mundo.

O retrato, eu trouxe lá da casa da minha mãe para restaurar. Ainda não fiz e o posto assim, marcado pela umidade, pela poeira, pelo tempo que passou e jamais voltará, e que também deixou marcas profundas e definitivas no meu corpo e na minha alma.