sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O amor é uma companhia



Eu trabalho a milhas e milhas e milhas de minha casa. Toda semana eu pego a estrada. São curvas e curvas e curvas e curvas... Hoje, ao retornar, meu amado me esperava na rodoviária com um sorriso tão bom, que eu até esqueci do cansaço, do sono atrasado, da enxaqueca e, enquanto o abraçava, repeti em silêncio os lindos versos de Caeiro:

“O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.”

Alberto Caeiro

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Ele

quando ele vem
é sempre o sol chegando

suas mãos quentes na minha pele triste

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Presente



um dia
aos nove de idade
enquanto rodopiava no quintal
simplesmente ela soube
haveria de ter uma filha
que se chamaria Sarah

e assim aconteceu
nove anos depois



Não fiz nenhuma reforma ainda, mas precisei voltar. Ando caminhando sobre escombros. Lentamente, mas preciso caminhar.
 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tempo de reformar

Estou fechando este blogue para balanço e reformas. Depois volto. Até mais e obrigada aos leitores que ainda visitam esta casa.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

domingo, 2 de dezembro de 2012

A queda


“A neurologista do hospital de Pádua, depois de examinar Tito, encaminhou-o a uma neurofisiatra do hospital de Veneza.
Nas semanas seguintes, a neurofisiatra submeteu-o a uma série de testes.
Quando os testes terminaram, ouvi pela primeira vez – com medo e terror – o termo que, daquele instante em diante, passaria a dominar minha vida.
Tito tinha uma paralisia cerebral.
O medo durou uma semana.
Depois passou.
O motivo pelo qual o medo passou em apenas uma semana foi uma queda.
Tito estava em meu colo. Eu lia o jornal no sofá da sala. Minha mulher, andando apressadamente de um lado para o outro, prendeu o pé na ponta do tapete e levou um tombo, na nossa frente. Vendo o tombo, Tito gargalhou. Simulamos outros tombos. Ele gargalhou, gargalhou e gargalhou. Nós gargalhamos com ele.
A paralisia de Tito tornou-se imediatamente mais familiar. O slapstick era a linguagem que todos compreendíamos.
Tito cai. Minha mulher cai. Eu caio.
O que nos une – o que sempre nos unirá – é a queda.”


MAINARD, Diogo. A queda: as memórias de um pai em 424 passos. 3.ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. p. 60


Eu não gosto do intelectual Diogo Mainardi, pelos mesmos motivos que levam muitas pessoas a não gostarem. No entanto, gostei muito de ler seu livro A queda. Fiquei tocada com o modo sincero, intenso e humano como ele narra a sua experiência de pai de um garoto com paralisia cerebral.

Eu não gosto do intelectual Diogo Mainardi. Mas eu gosto do pai de Tito.