terça-feira, 30 de outubro de 2012

Salvação



a poesia não me salva da bala do revólver
nem do açodar do tempo
que arruína o corpo
no entanto
a poesia
e somente ela
me salva

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Voz baixa



Uma folha caiu
Durante essa noite apenas uma folha caiu
Durante as quatro estações do ano, em cada noite
há sempre uma folha caindo  
Cai, mas nada se ouve: o silêncio
Como uma pessoa que viveu solitária
tanto tempo
e acabou por morrer


XIANG, YU. Voz baixa. In: BONVICINO, Régis; FENG, Yao (Org.). Um barco remenda o mar: dez poetas chineses contemporâneos. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 107. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Hoje



Sou professora. Nunca fui outra coisa. Jamais quis ser outra coisa. E o que me faz amar a minha profissão é o fato de eu poder, junto com outras pessoas, em uma sala tantas vezes precária, construir um discurso sobre algo. Sim, é isso, não ensino nada a ninguém, mas às vezes (nem sempre) consigo instaurar um espaço de diálogo e vamos juntos edificando universos.

domingo, 7 de outubro de 2012

Recado



desfiz distraída
a efígie
que você riscou de mim
em seu caderno

refaço em silencio
o segredo
pra você de mim guardar
no seu caminho

amo você intensamente
– assim humana –
e vou seguindo